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sábado, 13 de dezembro de 2008

Do amor ao ódio há cinco personalidades

O assunto comigo sempre foi que posso ter idéias diametralmente opostas e ainda assim estar em equilíbrio comigo mesma. Posso pensar que tal coisa é uma degeneração e ao mesmo tempo dar-lhe uma volta de porca e amadurecer que talvez não seja tão mal. Assim, posso ter sentimentos opostos a respeito de pessoas, atividades e opiniões. Custa-me muito definir-me. Suponho que a todos nos custa. Tenho razoável inveja daquelas pessoas que tem as coisas tão transparentemente claras... Provocam-me inveja e um pouco de desprezo.

Ai tem! Quase sem querer, um exemplo do que dizia precedentemente: comecei dizendo que tinha inveja daqueles que pensavam claramente e terminei escrevendo que me restavam chatos e preferia ficar em meu estado de confusão permanente. Nunca me decido.

Comigo sempre tudo é uma surpresa. Eu me pego dizendo que gosto de coisas que jamais provei, ou que nunca me houvesse ocorrido provar. Me encontro fazendo coisas que nunca me houveram passado pela cabeça. Minto-me, me engano e crio meus personagens. Nunca fui diagnosticada com transtorno de personalidade... mas acredito que isso foi um presente de Natal dos médicos que me atenderam. Se não tenho transtornos de personalidade então abram as portas do Borda e deixem todos os meus pares serem felizes. Embora sério, isso soa engraçado: você tem várias personalidades voando fora de muitas situações trágicas. Sou várias pessoas ao mesmo tempo e várias pessoas que pensam de maneira muito diferente. Ainda assim, isso não me gera conflitos. Não me contradigo: Penso diferente dependendo de vários fatores. Todas as minhas personagens convivem silenciosamente dentro de mim e esperam por sua vez para sair. De que depende? Como você sabe qual delas tem que sair? Bem, eles têm idéias claras e sabem que cada situação merece uma personalidade diferente, que se adeque, que se molde às circunstâncias em vigor.

As circunstâncias eram um tanto sombrias: nova escola, novas colegas, novos professores. É necessário uma nova personalidade para encarar todas essas mudanças. Um tem de se ajustar a um novo emprego, a uma nova casa, um novo grupo de amigos, e assim por diante. Aqueles que não conhecem necessariamente uma completa mudança de personalidade, criando uma satisfação apenas o que os outros esperam de nós. Então, fica mais fácil "encaixar", pelo que me custou toda a pré-adolescência.

Patris, assim se chamava o suposto colégio bilíngüe e acartonadíssimo que meus pais queriam que eu participasse. A verdade é que não era melhor que qualquer outro colégio (bem, talvez melhor que o primeiro em que eu fui). Pela primeira vez estava iria usar uniforme. Eu imaginei vestindo saia, camisa, gravata e moccasins. Eu calculei errado: o terceiro colégio que fui era cruel, em todos os aspectos. Não só estava longe o mesmo que a morte, mas que era uma área com quase nenhum sinal de vida humana. Sim,
qualquer outra vaca, um casal de ovelhas e talvez até um cavalo. Os uniformes? Um jogging roxo escuro e um suéter branco com o logo do colégio (ao melhor estilo "escudo espanhol") fazendo jogo com a campina verde circundante. Agora, explique-me algo, porque eu não sei muito de modas: Onde já se viu uma pessoa usando jogging e suéter ao mesmo tempo? Assim qualquer coisa então, que nem sequer havia se preocupado por desenhar um uniforme de pessoa normal. Não é por nada que nos gritavam de todos os cantos. Os garotos são cruéis, mas os diretores do Patris eram piores.

Esse colégio era uma desorganização que não estava ajudando a meu estado mental. O último que eu necessitava era um colégio desorganizado. Se suponha que ia aprender: e mais que nunca necessitava de regras e mão firme (não quero que soe sexual dizendo "mão dura"). E digo mais que nunca por que estava me desabando: comia paupérrimamente e jogava competências silenciosas com minhas companheiras do colégio. Silenciosas, digo, porque somente eu sabia que estava competindo. Competência era na realidade algo muito silencioso: saber quanto mediam nossas munhecas (quanto mais dedos podiam tocar dando-lhe a volta em sua munheca, mais magra era) o quanto sobressaiam os ossos de nossos quadris. Minha satisfação máxima era deitar-me e ver que o jeans se apoiava nos ossos no meu quadril e que todo o resto se afundava comodamente em nada. Que quase não tinha barriga. Que se começavam a notar as costelas. Que entre o jeans e minha pele ficavam muitos centímetros de distância.

Sempre me entretive com atividades que não agradavam aos outros. Suponho que por isso fui e sou solitária (agora menos que antes e antes mais que agora). Tudo o que sempre fiz dependia exclusivamente de mim: nadava sozinha, jogava sozinha, dançava em frente ao espelho, lia, escutava música no meu walkman, etc. Nunca pude compartilhar uma atividade. Nunca necessitei compartilhar uma atividade. Suponho que prefiro fazer as coisas sem ajuda, sozinha. Não gosto que me irritem, que alvorotem minha concentração, que me atrapalhem.

Aprecio mais que nada minha vida interior, meu esquisito mundo privado, aquele que ainda que quisesse não poderia explicar. É tão frutífero, é de tantas cores e tem tantas matices que não se poderia entender a dimensão nem a importância que fazem eles. Queria explicar-lo. Queria que meu ócio tivesse sentido para a sociedade: e sem embargo sou condenada. Sei que agora não entendem, mais já vão entender. Em algum momento minhas companheiras do colégio tampouco entendiam por que quando me diziam "Está com olheiras" eu contestava com uma risada cansada, porém feliz. E talvez seguem sem entendê-lo; para dizer a verdade, me cansa ter que explicar tudo as pessoas. E não sou soberba, não. Mas estou cansada. Nem meu corpo, nem minha alma, nem minha mente estão preparados para explicar muito mais, para viver muitos anos mais. Com ou sem competições de munhecas, com ou sem cinturões cortando-me a respiração, com ou sem pais me reprimindo alimenticiamente, com ou sem o valor para seguir. Não muito mais. Não quero muito
mais. Voltemos.

Então concorria esse colégio que em circunstâncias normais não havia sido tão terrível mais que naquelas condições parecia atormentador. Não só ficava longe, tinha péssimos professores e gozava de espantosos uniformes, e que, além disso, era de dupla escolaridade. O que significa isso? Que enquanto isso minhas companheiras entravam as 7:30AM e saiam as 12:30, eu entrava as 8:30AM e saía as 16:30. Certamente não era justo! "Escute-me! Sou uma adolescente começando a perturbar-se, não necessito estar neste colégio". Nada ouvia. Nada queria ouvir. Naquele momento comecei a idealizar meu plano vão-me-colocar-neste-colégio.

Enquanto meditava a estratégia para que me colocassem subitamente o Patris, também seguia tendo relação com minhas companheiras do Estrada, uma relação cada vez mais desgastada, mais espaçada e mais estúpida. Porque eram umas estúpidas. O certo é que nunca foram realmente minhas amigas, até esse momento não havia tido nem uma miserável amizade em 14 anos de existência. E querendo ou não, em 14 anos pode passar de tudo. E quando digo "de tudo" é literalmente isso. E a mim não me havia passado nem uma amiga; nem uma verdadeira. Mais tarde cheguei a pensar que tal coisa chamada amizade realmente não existia. Que era só um rótulo para apedrejar-nos pelas costas e esconder a pedra em baixo de um grito de "Como vou te fazer isso se somos amigos!". Custou-me muito desfazer-me dessa idéia tão convincente e certa. Fiz um esforço enorme para fazer-me acreditar que estava errada, descartar essa idéia de minha cabeça. Finalmente quase o lucro.

As aulas no Patris começaram em 9 de março de 1998. Em 11 do mesmo mês já estava preparada para que me coloquem. Era efetivamente torturante esse colégio e suas regras. Para começar, as diferentes séries tinham horários para comer; porque claro, estavam ironicamente encerrando nesse vastíssimo campo das 8 e meia da manhã e até as 4 e meia da tarde e teria que comer ali ou morrer de desnutrição. Talvez morrer de desnutrição não era tão mal comparado com as outras opções, para saber:

* Pagar uma grande quantia em dinheiro por mês para que o "catering" encarregado te alimente como a um universitário estadunidense de escola pública (isto inclui: comida vomitiva, fria, passada seis vezes pelo microondas, congelada e manuseada) ou

* Levar desde sua casa uma "vianda" (espécie de cesta de plástico que tenta fracassadamente conservar os alimentos frescos) que contenha milanesas feitas na noite anterior, batatas fritas frias, um refrigerante sem gás e mãos sujas... Porque nas viandas infalivelmente se esquecem dos guardanapos.

Por isso digo que talvez morrer de fome não era tão mal. Depois de tudo, com as viandas e o catering corria permanente risco de indisposição mortal. A única razão pela qual ir ao colégio era menos era menos escabroso era porque meus primos iam também. E com meus primos sempre tive a amizade de desejei ter.

Um suponha que porque são primos tenho que querer-lo a um e na realidade não é assim, nem um pouco. Tenho primos com quem me dou bem, primos que amo e alguns que não suporto. De fato, não me espraiei muito no assunto, mas formamos uma grande família. E sete dos meus primos e meus dois irmãos iam ao Patris. Pode-se dizer que isso foi mais verdadeiro e que por isso é mais pausado meu processo de abandono escolar.

Pausado, quero dizer: não me colocaram nessa semana. Foi um grande avanço. Para dizer a verdade, estava o suficientemente irritada com meus pais como para ir todas as tardes, uma vez finalizado o colégio, para dormir na casa dos meus primos. Pondo as coisas em claro, todo adolescente sabe que há casas divertidas e casas chatas. Bem, a minha era chata até a insônia e a 'casa de Zú' era um parque de diversões.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adoro e é viciante.
Estou ansiosa pelas próximas páginas :)

*

menina disse...

ja disse que adoro seu jeito de escrever?? *-*

'Nunca necessitei compartilhar uma atividade. Suponho que prefiro fazer as coisas sem ajuda, sozinha.'

parece mesmo que fui eu quem disse isso. \o/

Unknown disse...

cade o resto do livro??