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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ana entra em cena, quase sem querer

Aos poucos comecei há interessar um pouco mais por meu aspecto físico. Minhas companheiras, ainda que não fossem lindas, tinham corpos espetaculares para meninas de treze anos. Sentia-me muito mal: primeiro Verônica e Enrique e agora meus pais que me levavam ao nutricionista sem razão aparente. Na realidade existiam razões, mas nada me haviam explicado. Acredito que eu não entendia que estava excedida de peso. Nunca lhes ocorreu de estar com alguém muito bonito? Ver essa pessoa, escutar-la falar, seguir cada um de seus fascinantes gestos, admirar sua beleza... E mais tarde olhar-se no espelho e dar-se conta de que és horrível e que esteve querendo ser belo simplesmente porque estava olhando alguém lindo que viu não ser um. Bom, se nunca lhe ocorreu significa que estou muito mal da cabeça. Mas a mim me passa isso. E como ao meu redor todos eram fracos eu simplesmente dava por suposto de que eu também era e também esquecia de ver-me no espelho, ou não queria ver-me no espelho, ou via outra coisa no espelho (como me passou muito tempo depois, mas desde um ângulo completamente diferente). De qualquer maneira, meus pais me levando compulsivamente a nutricionista. Eu não entendia muito bem o que se passava, por que o médico me pesava e me perguntava o que eu gostava de comer. Entrava chorando e saia ainda pior.

Talvez por isso detesto os médicos. Uns se freqüenta quando se esta mal, ou quando tem um parente doente. São como aves de mau augúrio. Nunca os pode ver como se vem eles, com seu ego infinito: salva-vidas. Como os da praia, mas MUITO melhores porque eles ESTUDARAM muito para conseguir o TÍTULO. Bah... Farsantes. Cretinos. E, falando sério, em 98% das garotas anoréxicas e bulímicas que conheci na minha vida (e acredito que foram muitas) querem estudar ou estudam nutrição. Por favor, give me a rest. São TÃO obvias. Ser anoréxia e estudar nutrição é um clichê tão trilhado que é até espasmódico. Mudemos de assunto.

Levarem-me ao nutricionista era uma punhalada no dedo mindinho do pé, mas talvez me ajudou a ver a realidade que me metera cinza negava a morte: sim eram feios os penteados que me fazia minha mãe e sim era gorda. Mas disso me dei conta num verão não muito prazeroso.

Suponho que meus problemas alimentares sempre tiveram muito a ver com o que estava passando na minha cabeça. Quer dizer: eu não tinha problemas de depressão porque era anoréxica senão que era anoréxica a raiz de que tinha problemas de depressão. Porque, sejamos sinceros, uma pessoa feliz não deixa de comer durante x quantidade de dias. Uma pessoa feliz e desocupada, uma pessoa "normal" (se é que existe isso) não conta cada caloria: simplesmente come. E na última instancia, se engorda faz dieta NORMAL e tema acabado. Como já se deve saber, normal não é uma palavra que cola muito comigo. Interferência. Como quando quer ver um canal na TV satélite e está chovendo. "Detectando antena, por favor, aguarde". Isso me dizia meu cérebro quando eu tentava ser normal. Não posso, impossível. E espere muito tempo. Finja muito tempo, até que explode. Mas como digo eu: ainda é cedo para isso.

Falando da viagem que iniciou tudo. Ou foi o primeiro indicio de que algo estava me passando e que não ia solucionar-se tão facilmente. Trocando-me de colégio talvez pudesse encontrar amigas, mas não podia trocar de vida. Isso era mais complicado e até impossível. E lhes contarei sobre isso.

Corria o verão de 1998 e meus pais decidiram que nossas férias seriam em Punta Del Leste, Uruguai. Suponho que é por causa dessas férias que detesto o Uruguai. Sempre odiei a praia. Presumo que porque para as gordas é muito incomodo estar perto do mar, rodeada de pessoas magras, bronzeadas e demais adjetivos que nunca se usam aplicados em nós gordos. Mas isso havia somado meu problema de zelos. Meus pais decidiram que além de nossa família (papai, mamãe, irmã, irmão e eu) fosse também uma de minhas primas: Déborah. Tem minha idade e nos dávamos bastante bem, a questão é que nunca entendi que tinha que fazer minha prima ai de férias com nós. Quer dizer, se ela tinha sua própria família, porque veraneava com a minha? Coisas de crianças, suponho.

Se falarmos sério tem que dizer que, todavia me assustam duas coisas mais que nada no mundo (quer dizer, das coisas que me ocorrem agora). E essas duas coisas são o abandono e a substituição. Os dois por igual. Na realidade são quase o mesmo. Toda a vida me senti substituída e o certo é que não sei lutar quando estão me desprezando. Quando chega a minha família, o meu grupo de amigas ou a minha vida um par, simplesmente opto por retirar-me, sinto que não posso ser competente de nada. O assunto aqui seria perguntar porque me sinto ameaçada quando estou entre pares, entender por que tenho essa necessidade de competência que para mim antes de começar já é desleal.

Assim que chegamos ao Uruguai com minha prima e outros integrantes da MINHA família. Minha cara de desgosto é pouco dissimulável e minhas ganhas de trocá-la eram poucas assim que simplesmente fique como estava, mas não por muito tempo. Chegou a hora de ir a praia. Enquanto todos preparavam suas bolsas com os trajes de banho, toalhas, bronzeadores e outras ervas eu ficava pintando como se não houvesse percebido o movimento familiar. Quando chegou a hora de subir ao automóvel e ir para a praia eu silenciosamente disse que ia ficar. Na realidade o importante e anedótico é que um aos treze pensa que é adulto e pode manejar situações e pessoas a gosto. E é assim, em muitos casos. Eu sabia como chamar a atenção em minha casa e como demonstrar meu desgosto sem ser rude. Assim essa noite, depois da praia e depois que compraram comida e a serviram na mesa, me decidi a não provar um bocado. Disse que me doía muito a barriga ou algo desse tipo e fiquei olhando complexadamente como todos engoliam comida enquanto me escapava um sorriso pelo canto esquerdo dos meus lábios.

Ao meio-dia seguinte nos sentamos-se à mesa novamente para comer antes de ir a praia. Mas ates minha mãe nos comprou o mesmo presente a minha prima e a mim. Eram uns pijamas, o de Déborah era rosa e o meu celeste. Irritou-me um pouco que não haja diferenças. Quer dizer, o dia que me casar não vou presentear o mesmo a minha filha que a sobrinha do meu marido. Não disse nada, mas odiei esse pijama e não estou segura de haver usado alguma vez. Sentamos-nos a mesa e ainda que estava sofrendo de fome por não haver jantado não podia dar-me ao luxo de complexar a minha família, assim que disse que tampouco ia comer. Meus pais se irritaram o suficiente para que eu me servisse, com cara de nojo, quatro ervilhas e uma folha de alface. Seria de mais dizer que segui com esse comportamento durante os quinze dias de minha estadia nesse país? Fiz que meus pais sofressem nessas férias, porque na realidade minha prima nem havia se informado. E o certo é que eu não estava irritada com minha prima, para nada. Odiava meus pais por haverem me feito isso. Haver me feito o que? Não sei. Mas de Uruguai voltei o suficiente mais magra como para pensar que talvez atrás de toda essa capa de gordura e palidez existia uma garota bela. E de fato, foi o momento de descobrir-me.


Suponho que aos treze anos todas as garotas começam a modificar-se o caráter e fisicamente, mas o meu foi como uma transformação digna de um reality show. Em Punta Del Leste meu cérebro se deu conta de que era muito mais fácil castigar o corpo. Assim, depois de dias sem comer, dias de caras escuras, de pais irritadíssimos, de primas e irmãos desentendidos, contrai uma doença da qual nunca soube nem o porquê, nem quando nem nada que se assemelhe. O que tive? Não sei. Simplesmente uma manhã acordei sentindo-me muito mal e com coceira nas pernas. Com o decorrer das horas mudaram de cor: minhas pernas estavam ficando rosa, mais tarde coradas e ao final do dia pareciam banhadas em sangue. Era um ardor incomodo e não parei de coçar-me tentando aliviar a dor. Comecei a sentir-me mal, com dor de cabeça, com calor e frio... um quadro desagradável. Meu pai tinha um amigo médico nessa cidade assim que fui vê-lo. Carlinhos, quem se tornou meu médico. Será porque que meus pais querem que seja uma menina eternamente? Ou porque é amigo de papai? Coisas que nunca perguntei. Interrogações que aparecem de vez em quando.

Carlinhos me disse que tinha alergia. Mas não pode determinar a que. Não encontrou nenhuma picada nem nada estranho. Mais tarde entenderíamos que não havia sido nada. Absolutamente nada (físico). Era algo exclusivamente mental. Já escutaram falar das doenças ou reações psicossomáticas? Eis aqui o mais claro caso da história da minha vida.

Claramente não suportava a permanência da minha prima, não resistia às caras dos meus pais, não tolerava a praia, detestava Punta Del Leste, condenava Carlinhos e por todas as coisas detestava o fato de haver podido ser magra durante muito tempo e haver ficado sentada no trono oficial de Gorda Rejeitada só por eleição. Esse verão de 98 voltei pra casa determinada a mudar minha vida. Pus-me a fazer natação ferozmente e a comer muitíssimo menos.

Havia tido princípios de anorexia, mas naquele momento todos entendemos ou quisemos entender que simplesmente uma birra de adolescente. Quando voltei a minha cidade meus pais estavam suficientemente irritados comigo como para deixa-me em penitencia ou algo do tipo. Mas como amigas eu não tinha e o telefone de minha casa não tocava, não havia nada que me pudessem tirar.

O verão continuou e as águas se acalmavam. Mas não para mim, que tinha que voltar ao colégio. Aquele segundo colégio, o de guarda-pós e cartucheiras. Graças ao pequeno episódio do verão pesava quase 9 kg menos. Comecei a usar os jeans de minha mãe, coisa que jamais havia pensado antes. Sua roupa me ficava bem. Quase sem querer estava tendo as mesmas medidas que ela.

Quando voltei ao colégio, pode dizer-se que eu era outra pessoa. As pessoas antes não sabiam que eu existia e agora me olhavam, se davam conta da minha existência. Não somente me sentia viva, também comecei a ver-me linda. Assim, comecei a desfrutar dos benefícios de ser admirada. Pediam meu telefone as mulheres e me olhavam os homens. Assim, comecei a receber chamadas de companheiras do colégio e a juntar-me com o grupo mais popular. Eu estava com o grupo; quer dizer, não dentro do grupo, mas ao menos assistia suas reuniões.

Deixei de lado minhas 'amigas' as fracassadas do colégio e me submergi na superficialidade de adolescente do colégio privado. Comprava jeans caríssimos e comecei a vestir-me para que me olhem, não mais para esconder-me. Para mim mesma pensava: se me virem meus companheiros do colégio se assombrariam. Como mudam as pessoas! Não Enrique?

Meu pai me comprou um computador mas não tínhamos internet. Comecei a utilizar o Word para escrever minhas coisas ao melhor estilo "diário intimo". Meu primeiro PC foi uma UBM com menos capacidade que o Ipod que tenho neste momento nas orelhas. Mas servia, ainda que foi só pra aprender o que era um teclado (sobretudo Rocío já havia terminado seu curso de mecanografía).

Dois anos depois já era uma superficial a mais. Me juntava todas as tardes na mesma eqüina com minhas companheiras do colégio para que nos olhem, para ser admiradas. Por fim estava saboreando um pouco de vitória. E era doce, quase sem calorias. Perfeita.

É sabido que quando um sente que as coisas não podem ser melhor ou que pelo menos está vivendo um estúpido e frágil equilíbrio vital, as mesmas tende a desmoronar-se quase instantaneamente. É assim, uma regra vital, uma estúpida conseqüência da consciência. Tenho a alucinação de que quando um é ignorante sua própria felicidade pode ser conservada muito mais tempo e em melhor estado.

Eu era mais cociente do meu estado de beleza, ou ao menos acreditava que estava fortíssima como um rinoceronte asiático. Me tropeçava com as pessoas e fazia que me pedissem perdão. Era toda uma ficção de baixo pressuposto, porque na realidade minha meta era não ser a gorda perdedora que se transformou em uma beleza pura e encantadora. Não. Nunca jamais. Além do mais, nunca acreditei que meu estado era um êxito do meu próprio esforço. Não. Foi um capricho e deu resultados positivos, o qual me deixa supérflua e escorrediza. Não o ganhei com esforço. Não servia muito, necessitava expremer-me e beber o lucro instantaneamente. Embriagar-me de beleza.

Mas como eu disse, regodear-me em minha estúpida e facilmente conquistada felicidade não me trago mais que más noticias. Apareceu mamãe um dia e me disse que haviam aberto um colégio novo perto de casa. Enough already! Não sabem os pais que as mudanças bruscas nessa idade podem provocar dano cerebral permanente? Ou algo parecido. Mas, de todas as maneiras, era uma loucura mudar-me de novo de colégio. Nunca houve um pior momento para pensar nisso: quer dizer, tinha 'amigas', tinha súditos, tinha boas notas no colégio, fazia todos os esportes e Rocío não era mais que um palito sem doença. Quer dizer, havia ganhado! Não podiam fazer-me isso.

Não somente podiam se não que o fizeram. Se inaugurou um colégio bilíngüe e muito exclusivo perto de onde eu morava nesse momento, assim que não podia deixar de ir. Eu por um lado queria pertencer a ele, mas odiava ter que rearmar um grupo do qual ser líder. Porque isso era o que sabia fazer: dar ordens e amontoar súditos. Mais tarde varias pessoas me chamariam 'manipuladora', mas todavia é cedo para isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Flor!!!

Li tudo!!! Estou amando!!! Nossa me identifiquei te cara com este livro... A historia muitas vezes se entrelaça com a minha!!! Ja estou aguardando os proximos capitulos.
Amei tua iniciativa de tradzir o livro!!! Parabens!!!
Bjos

Anônimo disse...

Adoro e está muito bem escrito.

*

menina disse...

percebo -agora- que se trata da traduçao do livro. \o/
sim, sou meio lenta. eu sei.

Mas é tudo tao parecido que em aluns trechos me sinto como se estivesse escrevendo-o.

Agora irei ate o prologo e começar de onde devo.

(=